Cultivo da cana cria '28º Estado' que movimenta R$ 100 bilhões

Estado informal tem 250 municípios e 5 milhões de trabalhadores
As consequências socioeconômicas do avanço da cultura de cana-de-açúcar em uma região entre os Estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Goiás fez nascer uma espécie de “novo Estado” autônomo, para além dos 26 Estados brasileiros e do Distrito Federal.

A atividade econômica levou a região a alcançar uma autonomia com produção de energia elétrica, biomassa, etanol e açúcar, que movimenta mais de R$ 100 bilhões ao ano. E a classificação dessa região como um “28º Estado informal” é do pesquisador Ângelo Cavalcante, doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

O estudo aponta que a região reúne 250 municípios em seu território, com cinco milhões de trabalhadores, dinâmica, leis e orçamento próprios, e influência econômica e política, garantem ao Brasil o posto de maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, com 794.911 empregos formais gerado no setor, em 2016.

“Essa região na fronteira de cinco estados brasileiros funciona como uma unidade federativa, a partir de uma dinâmica própria determinada pela produção da cana. O Aquífero Guarani, formação geológica de armazenamento subterrâneo de água, assegura o sucesso da produção de cana-de-açúcar nessa região, que responde por mais de 80% da produção canavieira do país”, disse Ângelo Cavalcante em reportagem de O Globo.

EFEITOS COLATERAIS

O professor da Universidade Estadual de Goiás, em Itumbiara, afirmou ainda à reportagem que a expansão desse território, também trouxe problemas, como os ambientais, com a cana avançando sobre áreas de cerrado em Goiás e de Mata Atlântica em São Paulo.

Imagens de satélite de 125 municípios paulistas mostrou que as áreas de cana, que há 30 anos ocupavam um milhão de hectares, hoje ocupam 2,3 milhões. Período no qual o lucro da atividade canavieira foi superior ao de outras atividades, o que estimulou esse avanço, que causou a retração da citricultura, de modo mais intenso, segundo a Embrapa.

Mas a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), que representa mais de 50% da produção nacional, destaca que, desde 2009, a expansão do cultivo é regulada pelo Zoneamento Agroecológico da Cana, criado pelo governo federal, orientando o crescimento do setor. E nega que seus associados avancem sobre vegetação nativa, como cerrado, e terras indígenas.

“Entre 2000 e 2008, a expansão da cana em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal aumentou em pelo menos R$ 1 mil o PIB per capita médio de 2,3 mil cidades”, afirmou a Unica em nota.

A Unica também ressalta que o avanço da cana sobre as plantações de laranja em São Paulo foi decorrente da queda da demanda mundial pelos cítricos. “O preço pago pela cana, atualmente, é calculado pelo teor de sacarose e regulado pelo mercado. Isso levou a uma revolução do setor, após o fim do controle de preços do governo, já que os produtores tiveram de investir em variedades mais produtivas. Antes, pagava-se pelo peso da cana”, disse Antonio de Pádua, diretor técnico da Única, à reportagem de O Globo.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima queda de 3,3% na safra 2017/2018 de cana no país. Serão 635,59 milhões de toneladas, contra 657,18 milhões na safra anterior. Recuo que a Conab vê como resultante de uma retração na área cultivada. (Com informações do Diário do Poder e do O Globo)

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