Lula e Bolsonaro se enfrentarão como 'padrinhos' em 14 estados brasileiros

Em oito deles, lulistas ou bolsonaristas disputam uma das três primeiras colocações nas pesquisas 

Foto: Reprodução (Ricardo Stuchert e Alan Santos/PR)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que lideram as pesquisas de intenção de votos para o Palácio do Planalto, se enfrentam como "padrinhos" em disputas diretas de pré-candidatos ao governo de 14 estados, número que deve aumentar nas próximas semanas com a oficialização de novos apoios. Juntos, esses palanques estaduais representam 72,4% do eleitorado brasileiro. Em oito deles, lulistas ou bolsonaristas disputam uma das três primeiras colocações nas pesquisas. 

São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia - primeiro, terceiro e quarto maiores colégios eleitorais do País, respectivamente - já anteciparam o confronto e consolidaram pré-candidaturas dos dois lados. Os eleitores de Tocantins, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Piauí, Sergipe e Espírito Santo devem encontrar um cenário parecido nas urnas, com candidatos do PT e do PL se apresentando na disputa. A dobradinha entre os presidenciáveis e os postulantes aos governos estaduais também é dada como certa no Paraná, em Pernambuco, na Paraíba, no Maranhão e em Minas Gerais 

Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, o desempenho dos presidenciáveis nas pesquisas não se transfere automaticamente para as disputas locais. Porém, o voto para presidente costuma ter impacto nas escolhas regionais do eleitor e pode empurrar disputas dadas como certas para o segundo turno. "É o candidato a governador que precisa do apoio do presidente e não o contrário, ainda que exista o outro lado", disse a cientista política Graziella Testa, professora da FGV. Em 2018, por exemplo, o apoio de Bolsonaro, no primeiro ou no segundo turno, ajudou a eleger 16 dos 27 governadores. 

Para a pesquisadora, a cláusula de barreira e a arrecadação dos recursos que financiam as campanhas, que dependem da quantidade de deputados federais eleitos, têm obrigado as siglas a concentrar esforços para eleger nomes para o Legislativo, sobrando menos energia para a corrida pelo Executivo. "Os partidos não estão mais dispostos a apostar em um cavalo que tenha pouca chance de ganhar porque isso pode resultar em perder a aposta do outro lado (no Legislativo) que tem um impacto muito maior", disse. 

Cientista político e professor da Universidade Federal do ABC, Vitor Marchetti observa que as polêmicas ligadas aos padrinhos políticos tendem a ser utilizadas nas disputas regionais como forma de se promover ou minar o nome do adversário. 

"A ligação entre o nome estadual e o federal passa pelas agendas e por identidades maiores", explica. "Então, um candidato que colar no Lula certamente vai querer falar sobre temas que o ex-presidente vai estar trabalhando, como a economia do período do governo PT, crescimento da classe D, dentre outros. O candidato apoiado por Bolsonaro vai lidar com críticas em relação à questão da pandemia, das vacinas e das denúncias de corrupção no MEC. Não são temas de responsabilidade do governador, mas são assuntos ligados aos padrinhos." 

'Neutro' 

Na semana passada, em entrevista a um canal de TV na Bahia, Bolsonaro disse que nos Estados com mais de um aliado seu na disputa, será "neutro" e vai focar em sua reeleição. Ele cita, como exemplo, o Rio Grande do Sul, onde Luiz Carlos Heinze (PP) e o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) são pré-candidatos; e Santa Catarina, onde o atual governador, Carlos Moisés (Republicanos) deve enfrentar o senador Jorginho Mello (PL). 

Em São Paulo, há a possibilidade de palanque duplo para a chapa liderada por Lula e uma apoiada por Bolsonaro. O ex-ministro Fernando Haddad, do PT, deve disputar com o ex-governador Marcio França, do PSB de Geraldo Alckmin, que deve sair como vice de Lula. Já Bolsonaro deve ter o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) como representante. 

Um quarto nome tenta despontar nas pesquisas paulistas: o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), que assumiu após renúncia de João Doria (PSDB) para se cacifar como candidato ao Planalto. São Paulo é o maior colégio eleitoral do País, com mais de 32 milhões de eleitores, e é visto como peça-chave para os presidenciáveis. 

Para Marchetti, a situação paulista se assemelha ao cenário federal. "Não só a polarização, mas também mostra a dificuldade de construir a centro-esquerda como uma frente ampla de resistência ao Bolsonaro, de ter uma candidatura pró-Bolsonaro com força e de ter uma candidatura de centro que está tentando decolar e que ainda pode ser que consiga crescer nos próximos meses", disse. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. (Estadão Conteúdo) 


 

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