Bolsonaro, a pandemia e o desafio de construir palanques nos estados

A pouco mais de um ano das eleições, potenciais aliados nos governos estaduais em 2022 começam a ser definidos pelo presidente

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil 

Com a disputa eleitoral de 2022 se aproximando, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve articular alianças com candidatos aos governos estaduais no próximo ano. Em 2018, o cenário foi favorável: o presidente teve apoio declarado de 15 dos 27 governadores eleitos. A vantagem de Bolsonaro naquele momento garantiu apoios regionais de relevância sem muito esforço. Por vezes, quase invertendo o jogo político natural, o postulante à Presidência serviu de “palanque” para os candidatos a governadores.

O exemplo mais emblemático foi do governador João Doria, então candidato do PSDB em São Paulo. Logo após ver o representante da sua sigla, Geraldo Alckmin, sair no primeiro turno da disputa presidencial, Doria se apressou em demonstrar alinhamento a Bolsonaro, seguindo a tendência da “onda bolsonarista”. Sob a alcunha “BolsoDoria”, o governador saiu vitorioso no segundo turno das eleições, com 51,75% dos votos. A parceira, no entanto, não vingou.

Bolsonaro viu a sua lista de apoiadores nos estados esvaziar durante a pandemia da Covid-19, incluindo o governador paulista. Divergências sobre a gestão da crise sanitária acirraram a relação do presidente com alguns mandatários. Agora, em São Paulo, a principal aposta de Bolsonaro na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes é o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas.  

O presidente tenta lançar a candidatura de Freitas como uma “missão” a ser cumprida pelo ministro. Entretanto, ele não demonstra interesse em disputar o governo de São Paulo nem de nenhum outro estado. Com domicílio eleitoral em Brasília, Freitas adianta que não planeja a transferência e não é filiado a nenhum partido.

A costura de apoios no maior colégio eleitoral do Brasil passa ainda por nomes como o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP) e o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Vale destacar, porém, que aqui tratamos de “pré-aliados”. A pouco mais de um ano para as eleições, o cenário ainda é difuso, apesar da urgência que a elegibilidade do ex-presidente Lula (PT), principal adversário de Bolsonaro, impôs.

Outro desafeto que Bolsonaro garantiu durante a pandemia foi com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Um dos primeiros a decretar medidas de isolamento contra a Covid no País, Ibaneis foi na contramão do que defende o presidente, mas logo tentou de uma reaproximação.

Hoje, entusiasta da reeleição de Bolsonaro, Ibaneis distribui declarações em favor do dirigente e sua política contra o isolamento social. Em entrevista ao portal UOL no último dia 2 de março, o governador afirmou que “dificilmente” o presidente não será eleito para um segundo mandato.

Segundo divulgado pelo Estadão, o alinhamento coincide com a autorização de um “cota” de R$ 15 milhões para o governador no esquema do “orçamento secreto”, destinado a apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no Congresso.

Outros nomes, no entanto, estão no radar de Bolsonaro para a disputa da unidade federativa. As deputadas Flávia Arruda (PR), secretária do Governo, e Bia Kicis (PRP) são aliadas do presidente com potencial competitivo nas eleições distritais. Em 2018, Flávia foi a deputada mais votada no Distrito Federal, com cerca de 121 mil votos.

Em Goiás, Bolsonaro também conta com o apoio do governador eleito, Ronaldo Caiado (DEM), após um rompimento no início da pandemia que logo foi revertido. Uma segunda aposta é no empresário e ex-prefeito de Trindade (GO), Jânio Darrot (Patriota). O empresário, por sua vez, diz estar avaliando qual cargo de fato postulará em 2022, podendo disputar ainda como senador ou deputado.

No Rio de Janeiro, o presidente tem o palanque de Cláudio Castro (PSC), que assumiu o governo do estado definitivamente nas últimas semanas, após impeachment de Wilson Witzel, um ex-aliado. O estado é reduto eleitoral do chefe do Executivo, onde conta também com o apoio do filho e senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), e de um número expressivo de deputados.

Cinturão Vermelho

Os apoios em situação de poder, porém, vão se esvaziando nos estados do Nordeste. No Ceará, o suporte do presidente se restringe ao senador Eduardo Girão (Podemos), nome mais cotado para a disputa. Caso postule ao cargo de governador, ele terá, no entanto, que enfrentar o candidato apoiado por Camilo Santana (PT); ao que tudo indica, o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT). O cenário se repete nos demais oito estados da região.

No Piauí, a aposta é no senador Ciro Nogueira (PP), contra o candidato apoiado pelo atual governador Wellington Dias (PT). No Maranhão, o senador Roberto Rocha (PSDB) deve garantir as bases de Bolsonaro na disputa contra o candidato do governador Flávio Dino (PCdoB). No Rio Grande do Norte, o presidente investe nos ministros Fábio Faria (Comunicação) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) contra a governadora petista Fátima Bezerra. Na Bahia, ACM Neto (DEM) deve concorrer ao Executivo estadual e garantir o apoio em embate com adversário escolhido pelo governador Rui Costa (PT). Em Alagoas, o apoio deve ser articulado por um candidato apadrinhado pelo senador Fernando Collor (Pros-AL) e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Região Norte

No Norte do País, Bolsonaro conta com o apoio do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC). A pandemia deu novos contornos à relação, revelados pelo vice-governador Carlos Almeida Filho (sem partido), e se estabelece em favor do presidente. Já no estado do Pará, o apoio fica por conta do senador Zequinha Marinho (PSC), potencial adversário do governador Helder Barbalho (MDB) nas eleições estaduais. (Por Maria Eduarda Pessoa/O Povo)

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